Site Autárquico de Vila do Bispo

Património Arqueológico

A jazida paleolítica de Vale de Boi

 

A mais extensa e uma das mais significativas jazidas paleolíticas identificadas na Península Ibérica situa-se precisamente no concelho de Vila do Bispo, junto da aldeia de Vale de Boi, na freguesia de Budens. Assinalado em 1998, este importante sítio arqueológico foi desde então objeto de regulares campanhas levadas a cabo por equipas de investigadores nacionais e internacionais associados à Universidade do Algarve. Os trabalhos revelaram uma área de dispersão de vestígios superior a 10.000 m2 e uma exemplar sequência estratigráfica, testemunhos que atestam uma presença humana que remonta há cerca de 34.000 anos, um recorde de antiguidade no sul peninsular. Referimo-nos a pioneiros grupos de caçadores-recolectores que se detiveram sazonalmente naquelas paisagens entre o Paleolítico Superior e o Neolítico Antigo, há cerca de 6.000 anos, período de transição marcado pelo surgimento das primeiras comunidades de pastores-agricultores. Da informação exumada na jazida arqueológica de Vale de Boi, destaca-se a excecional preservação orgânica de ecofactos como ossos, conchas, carvões, pólenes e sementes, vestígios que permitiram reconstituir o ambiente e a biodiversidade em épocas pré-históricas; bem como uma importantíssima coleção de artefactos representativos da cultura material e da tecnologia daqueles nossos antepassados. Entre estes, podemos referir objetos de adorno produzidos sobre ossos e conchas perfuradas utilizadas como contas de colar, pontas de seta para caça, zagaias para pesca e uma raríssima peça de arte-móvel, uma pequena placa de xisto gravada com representações sobrepostas de três auroques, uma espécie de grande boi selvagem entretanto extinta. Relativamente à análise dos restos ósseos e das conchas, de salientar a remota importância dos recursos marinhos e do marisqueio para a subsistência e economia local. Foram recuperados abundantes restos de conchas, nomeadamente lapa, mexilhão, vieira, berbigão, amêijoas, caracóis marinhos e de água doce, búzios, percebes e cascas de caranguejos. A atividade pesqueira foi residualmente detetada pela ocorrência de vértebras de cação. No que respeita à caça, foram registados restos ósseos de coelho, lebre, raposa, cabra, javali, perdiz e águia-real. Interessante será verificar que, juntamente com estas espécies relativamente vulgares, foram isoladas outras espécies selvagens atualmente inexistentes na região, designadamente burro, cavalo, veado, lobo, lince, urso, auroque e, extraordinariamente... leão e rinoceronte!

 

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O Megalitismo e os Menires de Vila do Bispo

 

As atuais paisagens do concelho de Vila do Bispo documentam um notável território pré-histórico, exemplarmente marcado por uma intensa ocupação neolítica e por uma extraordinária monumentalização megalítica. Hoje, passados seis milénios após o levantamento das primeiras pedras por pioneiras comunidades de pastores-agricultores, ainda é possível registar cerca de 250 menires ou fragmentos de menir numa área total de 42 km2, o que equivale a cerca de 6 menires por km2, ou seja, a maior concentração de monumentos pré-históricos da Península Ibérica e uma das maiores identificadas em todo o Mundo! Considerando o critério de implantação e a dispersão geográfica dos menires europeus, o seu rasto cultural e cronológico e o cruzamento de uma série de outros indicadores arqueológicos coligidos pela investigação realizada até ao momento, torna-se possível afirmar que o fenómeno megalítico desenvolveu-se de sul para norte, a partir de um epicentro localizado no extremo sudoeste da Europa Continental. Nesta perspetiva, os menires de Vila do Bispo podem vir a estabelecer-se como os primeiros e os mais antigos monumentos megalíticos erguidos no ocidente europeu, encontrando-se na origem de uma sequência de monumentalização paisagística que culminará em arquiteturas bem mais complexas e monumentais, entre as quais se destacam o cromeleque dos Almendres, em Évora, os alinhamentos meníricos de Carnac, na Bretanha Francesa, e o recinto megalítico de Stonehenge, em Inglaterra, considerado o expoente máximo do megalitismo europeu. As excecionais e bem definidas características identitárias dos menires de Vila do Bispo sugerem uma ímpar personalidade de matriz indígena, uma original criação local, sem paralelo e não influenciada por ‘estrangeirismos’, motivada pelos intensos determinismos geográficos da finisterra e materializada pelo engenho das comunidades pré-históricas que habitaram este extremo território há cerca de 6500 anos, no dealbar do período Neolítico...

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O Menir do Padrão

 

O menir do Padrão apresenta-se hoje como o mais significativo representante do remoto e excecional território megalítico de Vila do Bispo. Ícone da Pré-história local, este monólito de calcário persiste no domínio sobre as paisagens da Raposeira. Foi reerguido em 1984, no original local de implantação, após a escavação do seu contexto arqueológico. Em 1994, uma nova campanha arqueológica permitiu confirmar vestígios de um associado povoado neolítico datado de há cerca de 6.500 anos, colocando este monumento megalítico na lista dos mais antigos do Ocidente Europeu. Além dos vestígios pré-históricos, a investigação arqueológica assinalou no local um conjunto de sepulturas de época tardo-romana e medieval, vestígios que demonstram o respeito destas culturas por monumentos antigos legados por antepassados desconhecidos. Fácil de encontrar, junto à berma direita da estrada que desce da Raposeira até à praia da Ingrina, podemos observar no topo deste menir uma ténue inscrição decorativa, uma remota mensagem simbólica das comunidades da Pré-história. Trata-se de um anel em relevo, atualmente bastante erodido, que surge representado em diversos menires da região.

 

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O Período Romano, a villa conserveira da Boca do Rio e o complexo oleiro do Martinhal

 

A tradição piscatória nas águas da nossa finisterra mediterrânica encontra-se documentada desde tempos imemoriais. A investigação arqueológica na área envolvente da atual praia da Boca do Rio, na freguesia de Budens, tem vindo a revelar uma contínua exploração de recursos marinhos desde o Período Paleolítico, há cerca de 34.000 anos, até particamente aos nossos dias. Entre o século I e meados do século V d.C., gentes do Mundo Romano desenvolveram no local um importante estabelecimento industrial especializado na produção de conservas e de outros preparados piscícolas, entre os quais se destacava o famoso garum. Esta indústria foi necessariamente alimentada pela atividade pesqueira e portuária, subsidiada pela produção de sal no estuário. A exploração arqueológica realizada no local, desde finais do século XIX, permite-nos afirmar que o complexo conserveiro da Boca do Rio será o segundo maior identificado em todo o território do antigo Império Romano, seguindo-se a Troia, na margem esquerda da foz do rio Sado. Em 2018, no âmbito de um projeto de investigação luso-alemão partilhado entre o Município de Vila do Bispo, a Universidade do Algarve e a Universidade de Marburg, foram descobertas diversas estruturas inéditas, entre as quais se destacam fornos de grandes dimensões e o porto romano, o maior e melhor preservado porto de época clássica assinalado em Portugal, tratando-se de uma ocorrência rara à escala internacional. Já no século XVI, a praia da Boca do Rio serviu de base a uma almadrava de atum. As armações do atum constituíram uma importantíssima atividade económica, regulada por direito senhorial da própria Coroa Portuguesa. Na segunda metade do século XVIII o Marquês de Pombal criou um instituto estatal, de carácter monopolista, para melhor controlar a economia do atum, sendo designado por Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve.

 

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Por seu turno, a praia do Martinhal, em Sagres, foi escolhida durante o Período Romano para o estabelecimento de um dos maiores centros oleiros conhecidos na antiga província da Lusitânia. Diversas campanhas arqueológicas ali realizadas ao longo dos últimos trinta anos revelaram a existência de onze fornos de produção cerâmica, sobretudo de ânforas. Conhecido desde os finais do século XIX, este estabelecimento romano seria coevo e subsidiário da villa piscatória-conserveira existente na praia da Boca do Rio. No Martinhal procedia-se à extração de barros, à modelagem de ânforas e à sua cozedura em fornos para posterior utilização enquanto contentores de transporte e exportação de garum e de outras iguarias conserveiras para todo o Império Romano.

 

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